Poemas de Álbum

(Foto) 1948. Pierre Verger. Imagens do Maranhão - Cenas de trabalho Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.

“À Teresa de Jesus Cabral”

Trarei teu nome gravado

Dentro do meu coração

Pois por ti só concebi

Amor, sincera afeição.

 

Estas linhas que escrevo

Só querem dizer “Maria”.

Delas só me esquecerei

Debaixo da campa fria.

Teresa de Jesus Cabral.

Maranhão, 22 de julho de 1856

 

***

 

“Um Anjo” (1863)

[poema reproduzido em forma de prosa][1]

Voaste, meu anjo,

Qual nuvem de incenso,

Em gratos perfumes

Ao trono do Imenso.

Com risos assumes

(Foto) Cururupu,1958. Marcel Gautherot  Imagens do Maranhão - Dançando diante dos tocadores.  Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.
(Foto) Cururupu,1958. Marcel Gautherot Imagens do Maranhão – Dançando diante dos tocadores. Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.

Mais grados queixumes,

De quem te adorava,

Os campos, os prados,

De etéreas alturas!

Tu garça inocente,

Folgando contente,

Rival nos agrados

Aos anjos c’roados

Com as flores dos Céus,

Aos pés do Senhor,

Nas harpas mimosas,

Canções sonorosas…

Entoam ao seu Deus!…

 

Ó, desce um momento,

Meu anjo de amor,

E traz-me um sorriso

Que abrande o tormento

De meu coração!

Fragrância da flor

Do meu paraíso

Se infiltre em minh’alma

Frescura na calma,

Consolo à aflição.

Guimarães, […] 1863

***

 

(Foto) 1948. Pierre Verger. Descarregando barco no portinho. Imagens do Maranhão - Cenas de trabalho. Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.
(Foto) 1948. Pierre Verger. Descarregando barco no portinho. Imagens do Maranhão – Cenas de trabalho. Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.

 “À Minha Amiga Terezinha de Jesus”

Pago-te em verso o que te devo em ouro

Beijar-te… ouvir-te a voz divina e pura

Mimosa criatura ― anjo de amor!

É gozo que extasia a minha alma

Como oásis na calma ― em longo error.

Mimo celeste que vieste ao mundo,

Ledo, jucundo [jovial] ― sedutor e santo!

Teu riso anima melindrosa fada

Por Deus mandada pra estancar meu pranto.

 

Não vieste, bela, a me inspirar poesia

Nessa harmonia de beleza, e canto?

Não sentes a alma que teu peito aninha,

Que a alma minha […] tributa […]?

 

Sabes, tu sabes que me[u] peito apuro

No afeto puro ― que te hei votado:

Que sonho extremo para ti ― ledices

Que de meiguices eu te hei cercado.

Mulher, encanto desta terra amena,

Visão serena ― ao despertar do dia,

Que em branca nuvem, com roupagem d’ouro

Desce; ― tesouro ― de imortal poesia.

 

Anjo que ao sopro matinal desprende

O voo: a [e] acende ― do turíb’lo o incenso

Que ondula brando derramando aroma

E ao trono assoma ― de Jeová incenso [?].

 

Ê meu empenho compreender teus cantos,

Que encerram encantos ― de celeste amor.

Sonho os mistérios devassar dos Céus

Anjo de Deus ― no teu mimoso odor.

 Guimarães, 19 de novembro de 1865

***

 

“Poema em memória de Adelsom” (1883/4/5(?)

Dum funesto e triste engano

Foi a vítima inocente:

(Foto) Cururupu,1958. Marcel Gautherot. Homens dando pernada no tambor de crioula. Imagens do Maranhão - Cenas de festas religiosas e populares. Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.
(Foto) Cururupu,1958. Marcel Gautherot. Homens dando pernada no tambor de crioula. Imagens do Maranhão – Cenas de festas religiosas e populares. Fonte: Museu Afrodigital da UFMA.

Foi triste rosa esfolhada

Sobre uma campa recente;

Sons plangentes de uma lira

Que […] de dor suspira.

Adeus meu doce anjinho, adeus Adelsom!

Águia nevada, remontando aos Céus;

Nunca da terra uma lembrança amarga,

Ledos folgares, ledos brincos [brincadeiras] teus.

Sem data

 ***

 

“[Saudade] poema em memória de Guilhermina” (1884/5(?)

Descansas no sepulcro, irmã querida,

Filha do Céu, remonta à essência.

Descansa das fadigas desta vida;

Desta penosa, e ardida existência!

Sem data


(Fonte: A Arte Literária | Blog sobre a história da literatura e a literatura em geral – Sérgio Barcellos Ximenes – 04/12/2017)