“Uma Saudade – No Álbum da Exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis” (1869(?) – Álbum)
Aqui junto a um santo nome,
Foi que me deste um lugar,
No teu álbum… oh! se eu pudera
De flores ele adornar!…
Mas, Senhora eu te agradeço
Essa prova de amizade,
Esses tão puros afetos,
Essa tão santa saudade.
Deixo-te aqui terno ― adeus,
Gravado de coração,
E saudoso… triste como
Dum filho a separação;
Merencório como a noite
Do pescador, a canção.
“Nestas folhas perfumadas,
Pelas rosas desfolhadas
Dos teus cantos de amizade”,
Deixo um ― adeus magoado,
Todo de pranto banhado,
No teu álbum, ― uma saudade!…
Raimundo Marcos Cordeiro
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“No álbum d’uma poetisa (EXM.ª SRA. D. M. F. R.)” (1892)
Quereis um canto, Senhora?
Talvez que melhor vos fora
pedir no romper d’aurora
descantes ao passarinho,
que ledo e meigo trinado
ser-vos-ia, certo, dado
d’harmonias repassado
soltado à beira do ninho
Quereis perfumes olentes,
agradáveis, rescendentes?
buscai nas flores nascentes,
que as flores perfumes têm;
suspiros? Pedi à brisa
ao vento que leve frisa
a fonte que se desliza
correndo e passando além
Se porém quereis doçuras
e frases que dão venturas
e que do mundo as agruras
sabem fazer olvidar,
tendes na lira d’amores
de rescendentes olores
vosso livro de primores,
de melodias sem par
Que mais quereis então, senhora, que pedis?
No vosso belo álbum tão rico de fulgor
quereis por entre o brilho de tão mimosas pérolas,
eu deite ousadamente a mais humilde flor?!
Ao nauta que sulca as vagas deixando esteiras d’espuma
lutando com o vento à proa, o mastro quase a quebrar,
peito rijo, mão no leme, vendo qual nuvem as terras
pelas asas dos pompeiros, qual mais veloz a voar,
é grato deixar em terra, no curto instante do gozo
uma lembrança que dure, na pedra o nome gravar.
que quando a brisasoprando leva-lo ao país d’aurora
talvez alguém com saudades possa o nome soletrar.
na folha pois deste livro, branca pedra rutilante
novel nauta gravo o nome, deixo um sinal, uma flor,
cantos não da lira as cordas, embora novas crestadas
ao fogo dos desenganos não sabem falar de amor!
P.L[Plautino Lima]
14[8]92
“Diário do Maranhão”, 22/6/1893, ano XXIV, número 5937, página 2.
[Transcrição e atualização/ Luciana Diogo]
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“A Mocidade (A mimnha ‘Mamaia’ M.F. Dos Reis” (Álbum)
À Minha Mamaia M. F. dos Reis
Felizes os que podem sem penas e cuidados
cercar a mocidade de contas e de flores,
sentir na fronte o beijo dos júbilos doirados
no seio palpitante fremirem os amores…
Vós sois a sã lembrança dos júbilos passados,
daqueles que a velhice cobriu com seus palores [cores pálidas],
e galgam com os folguedos, ridentes, perfumados,
de vossa mocidade repleta de esplendores…
Avante!…que nos mares serenos da alegria
jamais encontre escolhos a vossa mocidade
batel que se declina no veio da corrente…
Que nunca da descrença sintais a vaga fria
no seio borbulhar-vos lançando a soledade…
Onde deve a esp’rança brilhar eternamente!…
20.11.903
Oton F. Sá
(Fonte: A Arte Literária | Blog sobre a história da literatura e a literatura em geral – Sérgio Barcellos Ximenes – 04/12/2017)