Úrsula – Editora Taverna

APRESENTAÇÃO 

Sem dúvidas, um dos primeiros romances femininos publicados no país, Úrsula(1859), de Maria Firmina dos Reis, torna-se, atualmente, uma obra extremamente necessária para entender o Brasil. Desde o ano passado, ano do centenário de morte  da autora, a obra vem ganhando novas edições e ocupando as estantes das livrarias brasileiras.

De acordo com os editores da Taverna, as qualidades literárias e a biografia admirável da autora transformam também esta obra em registro histórico, que narra de forma inédita a situação dos negros escravizados e a opressão das mulheres. Em agosto, a Taverna lançou sua edição do romance.

O projeto de publicação executado pela Editora Taverna está à altura dos méritos do romance, tanto em termos estéticos, visivelmente expressos nos trabalhos de ilustração de Gabriela Pires, quanto com relação ao cuidado minucioso do texto. Respeitou-se a integridade do texto original (apoiado na edição fac-similar realizada por Horácio de Almeida em 1975, na Gráfica Olímpica), porém, atualizado de acordo com as novas regras ortográficas da Língua Portuguesa. Contudo, as marcas autorais de Firmina como o uso excessivo de travessões, exclamações, reticências e vírgulas que revelam também as estruturas dos moldes do romantismo foram preservadas. A presente edição é ainda acrescida de notas de rodapé que apoiam da leitura do texto. 

Inclui ilustrações e capa de Gabriela Pires, prefácio de Rafael Balseiro Zin (sociólogo e pesquisador na PUC-SP), posfácio de Ana Flávia Magalhães Pinto (historiadora, pesquisadora e professora na UnB) e paratextos de Fernanda Oliveira (historiadora, professora, coordenadora do GT Emancipações e Pós-Abolição da ANPUH/RS), Regina Zilberman (escritora, ensaísta e professora de literatura na UFRGS), e Ronald Augusto (poeta, crítico literário e músico).

 

Prefácio

O prefácio de Rafael Balseiro Zin destaca que Firmina redobra a percepção acerca dos valores patriarcais e realiza um tratamento diferenciado dos personagens negros, marcado por um ponto de vista interno, pautado na fidelidade à história da diáspora africana no Brasil.

Para ele, a narrativa firminiana  pode ser considerada como algo novo nas letras nacionais de meados do século XIX, por apontar “o caminho do romance romântico como atitude política de denúncia de injustiças sociais”. Rafael Zin afirma que Firmina desenvolve uma tática para estabelecer um ambiente de crítica social utilizando-se de um dos principais elementos do romantismo brasileiro – a exaltação à natureza – para o autor, Maria Firmina descreve a potência natural do país para depois contrastá-la com exploração do trabalho servil.

 

 

Posfácio

O Posfácio de Ana Flávia Magalhães Pinto traz questionamentos interessantes. Para ela, hoje, Maria Firmina e sua obra tem sido mencionadas como marcos na literatura brasileira, pioneira da ficção feminina ao lado de Nísia Floresta e Ana Luísa de Azevedo e Castro.

Contudo, Úrsula representaria um exemplo interessante de desvio no contexto da literatura romântica do XIX, pelo modo como incorpora a experiência da escravidão na narrativa – fazendo dele um texto inaugural e ao mesmo tempo singular entre romances abolicionistas.

“os personagens africanos criados por Maria Firmina são ladinos. Demostravam ter um aprendizado dos valores e práticas culturais a que foram expostos do lado de cá do Atlântico, sem, obviamente, esquecer por completo seus referenciais de origem. As tensões e contradições desse processo de adaptação psicológica e cultural ficam registradas nos pensamentos e nas atitudes desses personagens. Concordo, portanto, que esse seja em trunfo desse romance.”

Ana Flávia Pinto afirma que a partir das últimas décadas do século XX, os críticos têm apresentado a obra de Firmina centrando suas análises no realce da excepcionalidade. No entanto, de acordo com a autora, é preciso refletir sobre os limites e significados dessas singularidades que circunscrevem lugares específicos – destinados ao lugar do “incomum”, “outsider”.

Para ela, a experiência de Maria Firmina encerra questões espinhosas para a história da crítica e da literatura brasileira de base elitista.

E para além da desconstrução da originalidade, Ana Flávia Pinto propõe um exercício de reconhecimento do lugar de Maria Firmina no seu tempo, de modo a problematizar as ideias de exceção e genialidade submetidas como medida de legitimação. Para ela, esse gesto permite possibilidades para superar antigas e novas formas de isolamento da escritora e sua produção.

 

  

 

Agora, o texto de Ronald Augusto foca as forças que compõem as disputas por consagrações e exclusões existentes no campo literário brasileiro, defendendo que as literaturas constituem campos instáveis, cujas disputas colocam em jogo sequências de formas e atualizações demandadas pela recepção.

A partir desse argumento, Ronald Augusto entende que Úrsula integra um conjunto de obras literárias que contemporaneamente vêm sendo reinvidicadas como precursoras de uma tradição negra na literatura brasileira, integrantes da própria invenção dessa tradição, para ele, “a literatura negra se inventa a si mesma enquanto inventa o seu leitor”, e assim, as recentes edições do romance formam uma rica revisão de Maria Firmina ao mesmo tempo que reconfigura seu público leitor.

O Livro pode ser adquirido no site da Livraria Taverna

 

 

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